Falta de componentes leva indústria de eletroeletrônicos a interromper atividade.

Levantamento mostra que 12% dos fabricantes no Brasil tiveram que parar produção em junho.

A escassez no fornecimento de matéria-prima, que interrompeu a produção de automóveis durante todo o ano passado e este ano, está cada vez mais próxima dos fabricantes de eletrônicos, equipamentos médicos e outros produtos industriais.

Esses últimos estão inclusive adaptando a produção e revendo o cronograma por conta do aumento dos preços e da falta dos chips semicondutores.

Atualmente, no Brasil, quatro em cada dez fábricas de eletrônicos, como TVs, notebooks e celulares, já tiveram que paralisar as atividades ou sofreram atrasos na produção. Até a gigante Apple já anunciou que espera que os problemas de fornecimento se espalhem para os iPhones e iPads.

“A falta dos semicondutores na indústria automotiva é só a ponta do iceberg. Uma máquina em hospital de ressonância, os computadores avançados para certos exames, em algum momento, vão começar a faltar também”, analisa John Paul Lima, coordenador do curso de engenharia da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).

Segundo um levantamento realizado pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 12% dos fabricantes do setor tiveram que parar parte da produção no mês passado por falta de componentes eletrônicos. Esse é o maior registro desde que, em fevereiro, a pesquisa começou a acompanhar o impacto da falta de insumos no mercado brasileiro.

Ainda de acordo com a pesquisa, 32% das empresas relataram enfrentar atrasos na produção ou na entrega de produtos aos clientes.

Entre os fabricantes de produtos que contêm semicondutores, 71% das companhias afirmaram ter tido dificuldades para adquirir o insumo. No mês anterior, a proporção estava em 55%.

Por conta desse problema, 93% das fábricas sentiram o impacto no preço dos componentes. As principais dificuldades citadas são a escassez de chips (80%), o aumento das tarifas de frete (71%) e a desvalorização cambial (44%).

Alternativas

Para driblar a falta de componentes, a Intelbras, uma das maiores fabricantes de eletrônicos de segurança, energia e comunicação, decidiu antecipar os pedidos para manter o controle dos prazos de entrega.

“Evitamos a necessidade de desenvolvimento de substitutos para as linhas mais importantes, mas nosso centro de pesquisa e desenvolvimento já trabalha com projetos alternativos para evitar perdas de produção caso algumas linhas sejam prejudicadas”, explica o diretor de Suprimentos da empresa, Ado Rafael Feijó, que confessa que o momento tem limitado a expansão de linhas de produto como redes e câmeras IP.

A Kingston, uma das maiores fabricantes e comercializadoras de produtos de armazenamento de memória do mundo, prevê que a situação começará a ser normalizada apenas no segundo semestre de 2022.

Com aumento da demanda em até 40% para alguns dispositivos neste ano, o diretor executivo da companhia, Paulo Vizaco, descarta o desabastecimento de qualquer produto.

“Trabalhamos sempre com margem de segurança para manter o abastecimento. O mercado brasileiro é extremamente importante para a Kingston, e todo o nosso line-up está disponível através dos nossos parceiros”, pontuou.

O Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, acumula alta de 36,89% nos últimos 12 meses. Em 2021, a categoria de TVs teve uma inflação acumulada de 14,40%, enquanto os consoles sofreram alta de 11,59%.

Sem investir, país é dependende de importação

O chip é milimétrico, mas está por trás de produtos eletrônicos como computadores, celulares, TVs, videogames, eletrodomésticos até veículos e equipamentos hospitalares.

Disputado por quase todas as indústrias, a grande questão, de acordo com o professor John Paul Lima, coordenador do curso de engenharia da Fiap, é também a escassez de fábricas capazes de produzir semicondutores. Atualmente, os maiores produtores do componente estão na Ásia.

“Temos cinco fábricas no mundo todo que produzem chips mais avançados” explica. “O Brasil nunca apostou e investiu nessa área. Temos algumas indústrias, mas que produzem os chips mais simples. É uma indústria muito cara e que tem atualização constante. Os fabricantes não produzem e não deixam armazenados”, completa o especialista, que ressalta a importância de investimentos nessa área.

Em Minas Gerais, o projeto da fábrica de semicondutores Unitec, instalada em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, se arrasta desde 2012 sem nunca ter iniciado sua produção.

A planta era apresentada como marco tecnológico e a primeira brasileira a produzir chips, sob investimentos de R$ 1 bilhão.

Fonte: Otempo.com.br – Letícia Fontes

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